quarta-feira, 30 de janeiro de 2013


         Zaca Oliveira 


é um artista de muitas faces: cenógrafo, ilustrador, criador de arte final e logomarcas empresariais, diretor de arte de filmes, curtas e comerciais para TV. Atualmente, desenvolve trabalhos com decoradores e produtores de eventos em Salvador e destaca-se por suas ideias inovadoras na concepção e montagem de ambientes internos. As inquietudes causadas pelas desigualdades sociais têm-se revelado em algumas de suas obras que retratam as periferias com os sofrimentos e as angústias daqueles que vivem à margem da sociedade. Entretanto, como não está preso a amarras ou rígidas definições, Zaca Oliveira possui um belo acervo de telas abstratas que são um convite à fruição e ao deleite artístico.

                                               
                                                




                                       



sexta-feira, 18 de março de 2011

Pedágio: nosso passaporte para o mundo globalizado.

         Discussões acirradas, Sessões Especiais na Câmara de Vereadores e muita gente numa contradição enorme entre atos e falas. Pois é, tudo digno de uma democracia globalizada. Sim, porque no mundo atual não poderíamos continuar com os pés fincados no atraso dos tempos. Esqueçam essa realidade terceiro mundista. Agora temos as Praças de Pedágio, esse acepipe tão apreciado pelo capitalismo e pelas sociedades globalizadas. Oh, Yes nós temos pedágio! Ele é tão nosso como o são a miséria e a desigualdade cotidiana. As praças de pedágio nos retiram da condição de subdesenvolvidos nos elevando à categoria de subdesenvolvidos globalizados, conectados com o nosso tempo. Um direito conquistado que nos diferencia dos nossos irmãos nordestinos, nosso Estado está em consonância com o desenvolvimento, a Bahia é über assim como a Gisele Bündchen.
          E Camaçari? Será que existe mega über? Se existir, somos isto, somos mais que über, somos top-mega-ultra-über-über. Todas as saídas, entradas e fronteiras do município estarão fortemente guarnecidas por uma praça de pedágio e nosso direito de ir e vir será mensurado pelo valor da tarifa. Tudo isso encherá de glamour aquela prainha com galeto assado. Vamos aproveitar enquanto ainda é possível colocar algumas latinhas no isopor, botar o galeto na sacola, rachar a gasolina com a galera e passar os últimos domingos não-pedagiados à beira do rio na Aldeia Hippie ou em qualquer outra praia da linha verde. Com a inauguração das Praças de Pedágio seremos globais e tudo isso passará a ser artigo de luxo. Depois seremos prisioneiros na Sede ou nos bairros da Orla, cativos cujos bilhetes de liberdade serão os cupons fiscais dos pedágios. No Money, no freedom. E os que não possuem nenhum tipo de veículo não deixarão de desfrutar da glória “pedagiada” sendo submetidos aos reajustes nas passagens do inexoravelmente ruim e vergonhoso sistema de transporte urbano. Claro que todos os outros setores de nossa economia globalizada não ficarão de fora deste clímax reajustando suas tarifas, serviços e preços pois Camaçari será uma cidade mais cara portanto, mais valorizada depois do pedágio, ora!
          É a glória! Nós e os ricos que se refugiaram nos condomínios de luxo ao longo da linha verde seremos democraticamente agraciados pelo glamour do isolamento. Teremos que demonstrar nossa inserção na sociedade global ao abrir a carteira para ter garantido o direito natural de ir e vir. Que importa se estamos no Nordeste brasileiro, assolados pela miséria, fome, se a educação é de péssima qualidade, segurança a pública está calamitosa e a seca ainda mata ou expulsa algumas centenas todos os anos? Se não chove água, seremos inundados pela torrente das praças de pedágio distribuídas nas BRs, BAs e afins ratificando a nossa presença no mundo globalizado. Que importa se ninguém os utilizou como plataforma de campanha? Não nos disseram antes por sagacidade porque sabiam que nós aprovaríamos com louvor esta genial idéia então guardaram a cereja para o final, quero dizer, para o início do mandato. Não estava no programa apresentado na Campanha mas está entre os primeiros atos do mandato. É o pulo do gato, a idéia genial. Nem Odorico Paraguaçu faria melhor, Justo Veríssimo invejaria enormemente tamanha demonstração de astúcia, capacidade de gestão e respeito ao povo.
          Tudo isso é esplêndido e a coroação acontece quando vejo os políticos do passado, os quais implementaram o pedágio que opera atualmente na linha verde, criticando os políticos de agora pela criação dos novos pedágios. Explico: ferrar conosco não é o problema, o problema é ferrar muito conosco. Diferente, claro, muito diferente! Ah, o deleite máximo, a catarse, o ápice democraticamente surreal é ver os companheiros de partido, travando uma briga de cavalheiros, verdadeiros lordes num impecável fair play. Uma encenação digna de Oscares vários; de melhor protagonista a coadjuvante, passando por fotografia – não poderíamos esquecer do caráter artístico das máquinas construindo nossos novos cartões postais repletos de cancelas e guichês. Para finalizar, o prêmio de melhor trilha sonora – a orquestra de vaias dos populares sendo retrucadas pelos parlamentares acostumados a aplausos, mesmo os encomendados. Parodiando Chico Buarque: quem brincava de unanimidade acreditou na fantasia. Pois é, meu povo, bate palma com vontade.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

A quem serve a luta cotidiana?

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 “Não deixe portas entreabertas
Escancare-as ou bata-as de vez.
Pelos vãos, brechas e fendas
Passam apenas semiventos,
Meias verdades e muita insensatez”.

Cecília Meireles

Não gosto das pessoas sorrateiras, dos mornos, dos natimortos. Nunca gostei da vida entreaberta; quero adentrá-la de frente, erguida pois é assim se recebe o abraço ou se leva a bofetada;  com os olhos fitos no outro, na pessoa.  Olhos dispostos a enfrentar com dignidade a lágrima e o sorriso. Ficar a esgueira...  não, definitivamente.  Um manifesto contra aqueles que se arrastam por entre as bordas da vida, covardes, biltres, abutres a escarnecer da intrepidez alheia. 
Portas entreabertas me incomodam. Tenho poucas, duas ou três que teimam em ranger, cismam em incomodar para que eu as feche, ou as abra de vez. Portas como fantasmas que gritam, uivam, rugem, arranham minha cabeça em flagelo contínuo. Eis-me então para cerrar ou escancarar uma delas: a do silêncio. Descerro meu decreto à palavra, ao que me constitui desde as entranhas, meu bálsamo e cianureto. Recorro às palavras, atiro-me a elas tal qual Ismália ruflando asas de par em par com alma subindo ao céu e corpo atirado ao mar.
Meu romance com a palavra surgiu cedo, quando minha mãe me levava ainda com três anos de idade aos comícios do “Beija-flor” na cidade de Santo Antônio de Jesus, Bahia. Não sei ou posso precisar se eram partidos, alas ou sei lá o quê. A cidade dividia-se em Beija-flor – com bandeiras de cor vermelha, azul e branca-, e Jacú – com bandeiras de cor amarela e preta, salvo engano. Os comícios eram feitos em cima de caminhões improvisados e devidamente preparados para fuga, pois a polícia era rápida em desbaratar as aglomerações a tiros e pancadarias. Recordo das primeiras escapadas das quais participei... um senhor que para mim era simplesmente o tio Renato (ex-prefeito e ex-deputado Renato Machado, in memorian) falava a uma multidão que o aplaudia efusivamente depositando nele fé e esperança. Eu nem sabia ainda o que seriam estes sentimentos, porém, achava muito estranho ver pessoas se atirando à frente da polícia para proteger nosso caminhão. E lá íamos nós... a policia com tiros e pancadaria, as pessoas com paus e pedras, os caminhões a bater em retirada e minha mãe e tio Renato empunhando apenas microfones tal qual varas encantadas a banhar de coragem a multidão.
Assim eu fui crescendo e a palavra se entranhando em minha pele, por meus poros, em cada gota de sangue...  Lembro-me da primeira palavra aprendida: folha. Ei-la. Soletrava aos quatro cantos e perguntava a todos: você sabe escrever folha? F-O-L-H-A, FOLHA. Este foi meu primeiro decreto. Não por acaso... folha me remete a folio, ao papel em branco à espera das palavras. E assim fui aprendendo do seu manejo, do seu corte, do seu talhe, da sua substância. Com as palavras descobri o seu enorme poder para transformar o mundo e as pessoas ao meu redor. Me lasquei! Assim mesmo, em bom dito nordestino. Me lasquei! Vieram o Grêmio estudantil, a UJS, os movimentos sócias, o DA, o DCE, o Comunismo, o PCdoB e tantos outros lugares nos quais transformamos o mundo por meio do verbo aliado à ação. Qual a justificativa de todo este intróito?! As memórias me têm tomado de assalto, pois quando somos forjados na luta cotidiana aprendemos que o medo e o silêncio são artigos de luxo. Descobrimos que se faz necessário perguntar sempre: a quem serve? Esta pergunta crucial, aprendi aos dezoito anos com uma das pessoas mais dignas e admiráveis da política baiana a camarada Alice Portugal de quem eu me orgulho de possuir o DNA político. A quem serve? A pergunta que me ronda a cabeça, me tira o sono e incomoda. Este questionamento precisa nos acompanhar sempre e a ele devemos recorrer, sobretudo, nos momentos relevantes nos quais os fatos possuem importância social. Se não descobrirmos A quem serve, seguramente descobriremos A quem não serve argumento suficiente para nos conduzir à ação ou reação. Este exercício eu o ratifico hoje, me desculpem os donos dos olhares insatisfeitos, dos brios incomodados. De agora por diante os perquirirei sempre que necessário e o farei com os instrumentos dos quais disponho ou criarei novos quando preciso.
 Chega dos sapos entalados na garganta. Alguns sapos não devem ser engolidos para não nos matar envenenados. Alguns sapos enormes e gordos ficam entalados na garganta e nada os digere ou faz descer. Nestes casos o melhor é regurgitá-los. Sapos embebidos em vômitos e lançados ao ar. Nada muito diferente da matéria fecal na qual freqüentemente se banham. Sapos, penicos, fezes ao ar... um carnaval de perguntas e uma chuva de respostas mal cheirosas mas tudo acabado lavaremos o recinto com água sanitária, desinfetante e limparemos o quarto, a sala, a casa toda. Então faremos nosso manifesto à assepsia, nosso decreto de liberdade ou coisa similar.  Até lá procurarei descobrir a quem servem as tantas coisas que teimam em me incomodar.
Talvez o arroubo juvenil, vício e resquício da UJS, tenha-me feito escrever estas mal digitadas linhas. Para alguns, impertinentes, para outros, nem tanto, para mim necessárias. Pronto, está feito. Eis meu decreto à palavra, o texto inaugural do blog e meu grito de liberdade. Seguirei sem portas entreabertas, vãos, brechas, fendas, semiventos ou semi-silêncio.