sexta-feira, 18 de março de 2011

Pedágio: nosso passaporte para o mundo globalizado.

         Discussões acirradas, Sessões Especiais na Câmara de Vereadores e muita gente numa contradição enorme entre atos e falas. Pois é, tudo digno de uma democracia globalizada. Sim, porque no mundo atual não poderíamos continuar com os pés fincados no atraso dos tempos. Esqueçam essa realidade terceiro mundista. Agora temos as Praças de Pedágio, esse acepipe tão apreciado pelo capitalismo e pelas sociedades globalizadas. Oh, Yes nós temos pedágio! Ele é tão nosso como o são a miséria e a desigualdade cotidiana. As praças de pedágio nos retiram da condição de subdesenvolvidos nos elevando à categoria de subdesenvolvidos globalizados, conectados com o nosso tempo. Um direito conquistado que nos diferencia dos nossos irmãos nordestinos, nosso Estado está em consonância com o desenvolvimento, a Bahia é über assim como a Gisele Bündchen.
          E Camaçari? Será que existe mega über? Se existir, somos isto, somos mais que über, somos top-mega-ultra-über-über. Todas as saídas, entradas e fronteiras do município estarão fortemente guarnecidas por uma praça de pedágio e nosso direito de ir e vir será mensurado pelo valor da tarifa. Tudo isso encherá de glamour aquela prainha com galeto assado. Vamos aproveitar enquanto ainda é possível colocar algumas latinhas no isopor, botar o galeto na sacola, rachar a gasolina com a galera e passar os últimos domingos não-pedagiados à beira do rio na Aldeia Hippie ou em qualquer outra praia da linha verde. Com a inauguração das Praças de Pedágio seremos globais e tudo isso passará a ser artigo de luxo. Depois seremos prisioneiros na Sede ou nos bairros da Orla, cativos cujos bilhetes de liberdade serão os cupons fiscais dos pedágios. No Money, no freedom. E os que não possuem nenhum tipo de veículo não deixarão de desfrutar da glória “pedagiada” sendo submetidos aos reajustes nas passagens do inexoravelmente ruim e vergonhoso sistema de transporte urbano. Claro que todos os outros setores de nossa economia globalizada não ficarão de fora deste clímax reajustando suas tarifas, serviços e preços pois Camaçari será uma cidade mais cara portanto, mais valorizada depois do pedágio, ora!
          É a glória! Nós e os ricos que se refugiaram nos condomínios de luxo ao longo da linha verde seremos democraticamente agraciados pelo glamour do isolamento. Teremos que demonstrar nossa inserção na sociedade global ao abrir a carteira para ter garantido o direito natural de ir e vir. Que importa se estamos no Nordeste brasileiro, assolados pela miséria, fome, se a educação é de péssima qualidade, segurança a pública está calamitosa e a seca ainda mata ou expulsa algumas centenas todos os anos? Se não chove água, seremos inundados pela torrente das praças de pedágio distribuídas nas BRs, BAs e afins ratificando a nossa presença no mundo globalizado. Que importa se ninguém os utilizou como plataforma de campanha? Não nos disseram antes por sagacidade porque sabiam que nós aprovaríamos com louvor esta genial idéia então guardaram a cereja para o final, quero dizer, para o início do mandato. Não estava no programa apresentado na Campanha mas está entre os primeiros atos do mandato. É o pulo do gato, a idéia genial. Nem Odorico Paraguaçu faria melhor, Justo Veríssimo invejaria enormemente tamanha demonstração de astúcia, capacidade de gestão e respeito ao povo.
          Tudo isso é esplêndido e a coroação acontece quando vejo os políticos do passado, os quais implementaram o pedágio que opera atualmente na linha verde, criticando os políticos de agora pela criação dos novos pedágios. Explico: ferrar conosco não é o problema, o problema é ferrar muito conosco. Diferente, claro, muito diferente! Ah, o deleite máximo, a catarse, o ápice democraticamente surreal é ver os companheiros de partido, travando uma briga de cavalheiros, verdadeiros lordes num impecável fair play. Uma encenação digna de Oscares vários; de melhor protagonista a coadjuvante, passando por fotografia – não poderíamos esquecer do caráter artístico das máquinas construindo nossos novos cartões postais repletos de cancelas e guichês. Para finalizar, o prêmio de melhor trilha sonora – a orquestra de vaias dos populares sendo retrucadas pelos parlamentares acostumados a aplausos, mesmo os encomendados. Parodiando Chico Buarque: quem brincava de unanimidade acreditou na fantasia. Pois é, meu povo, bate palma com vontade.

2 comentários:

  1. - porque se eu quiser, trago um grupo nosso pra me aplaudir aqui e abafar as vaias de vocês.


    Grande Luíza! (só faltou completar com o como de costume )

    "ó você errada, o mal é esse!" huahauaha #rialto

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  2. Adorei o blog Paty...
    Vou estar sempre passando por aqui.
    Beijão!
    =*

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